Criamos a época da velocidade, mas nos sentimos enclausurados dentro dela. A máquina, que produz abundância, tem-nos deixado em penúria. Nossos conhecimentos fizeram-nos céticos; nossa inteligência, empedernidos e cruéis. Pensamos em demasia e sentimos bem pouco. Mais do que de máquinas, precisamos de humanidade. Mais do que de inteligência, precisamos de afeição e doçura. C.Chaplin

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Local: São Paulo, SP, Brazil

Jornalista, integrante da missão Manuela Saéz, a libertadora do libertador Simón Bolívar: nossa missão? Libertar o mundo da desinformação midiática



quinta-feira, agosto 31, 2006

Ainda que um instante...

Se fechasse os olhos ainda sentiria o pulsar daquela visão. Queria qualquer coisa que pudesse, de maneira repentina, apagar tudo que a fizesse recobrar o que vira.
Nunca fora de se intimidar com pouca coisa, mas agora aquele espectro tornou-se quase iminente a seus olhos. Sentia também aquele cheiro, aquele acre cheiro de qualquer coisa que não prestasse.
A disparidade entre o que ela via e o que sentia era tamanha, que não pôde passar desapercebido pelos meus olhos. Ele sofria.
Era um sofrimento pequeno-burguês e mesquinho, mas ainda assim era um sofrimento.
Sentia-se egoísta e impotente frente à realidade que só vira nesses filmes brasileiros, que têm a mania de serem feios. Agora não havia como fechar os olhos, porque mesmo quando o fechava, lá estava a imagem que tanto a constrangia.
...
Sentou-se no carro e esperou que o coração parasse de bater. Deu partida. Iria para bem longe dali. Para onde? Para qualquer lugar!
Chegou no escritório do namorado. Abraçou-o: “Vamos almoçar juntos?” Foi.
E almoçaram, mesmo à revelia daquelas crianças que momentos atrás ela vira revirar os latões de lixo, esfomeadamente, de um outro restaurante, em um outro ponto da cidade, em meio a ratos e o odor característico de comida estragada.
Foi um momento. Por alguns instantes ela teve a consciência de que o mundo é bem maior e mais complexo do que sonhara sua vã filosofia. Ainda que ela venha a se esquecer disso depois.

domingo, agosto 20, 2006

A vida inteira que poderia ter sido e foi...


Cansou-se da vida virtual que tinha até então. Decidiu não mais beber senão para matar a sede, não mais comer, se não para saciar o espírito faminto de sentido. Não quer ver nada que não revele a magia da natureza.

Se soubesse o que mudou, guardaria esse segredo consigo, para que ninguém o roubasse. Viveria intensamente agora. De olhos erguidos para demonstrar que já não se submeterá à vontade de ninguém que não seja ele mesmo.

Não mais haverá chefes medíocres coagindo-o, obrigando-o à humilhação da obediência.

Não, seu espírito instintivo, libertário e hostil já não poderia submeter-se às regras estúpidas nas quais vivem os homens de bem. Não seria um deles. A família e toda a parafernália social agora, mais do que nunca, causava-lhe repugnância.

Duas horas a mais e conseguiria, quem sabe, compreender a ignorância humana, que embora latente, permanece oculta.

Sentou-se um minuto para contemplar a melodia daquele surdo silêncio que o atormentaria e seria capaz de levá-lo ao suicídio em outros tempos... Mas que agora, é a música de sua alma.

Acendeu um cigarro enquanto contemplava a vida ainda quente que escorria sob seus pés.

sábado, agosto 12, 2006

Olhou para aqueles olhos como se fossem os últimos
Olhou para aqueles olhos como se fossem os únicos

Quis congelar o momento em que ele lhe sorri para usar quando estivesse escuro. Aprisionar o perfume por ele exalado em um vidro atemporal, para sempre senti-lo, mesmo que fosse verão.
Nada, nada a faz esquecer sua voz. Grave e suave, forte e macia. Ao ouvi-lo, sente o perfume do jardim das rosas de sua avó.
Fica a contemplá-lo, ainda que de longe, ainda que escondida discretamente. Gosta de apreciar a liberdade que embala seus pensamentos.
Escolhe a cena que povoará seus sonhos e a trilha sonora mais adequada.
Ele sai. Esse instante é preenchido de vazio. O vazio ensurdecedor. O nada dilacerante que a perseguirá até às 16 horas do dia seguinte. Quando ele voltar e andar sorrindo pelos corredores, fará novamente dançar seus pensamentos, até que ela esqueça o que deveria estar fazendo.

Dançou e gargalhou como se ouvisse música
E flutuou no céu como se fosse um pássaro